Sentado numa grande pedra, em silêncio, o sábio observa o infinito.
Seu pequeno aprendiz, sedento de saber, permanece quieto ao seu lado, em respeito à quietude do mestre. Sabia que sempre que o sábio se perdia em sua própria distância, buscava algo mais para ensinar.
O sábio sorri, e o pequeno discípulo fica se perguntando para quem ou por quê.
Passam-se alguns minutos, até que o sábio resolve quebrar o silêncio. E, com a suave voz de sempre, comenta, deixando o pequeno aprendiz atento e agitado:
– Que belo!
– O que vê, que não vejo, mestre?
– Vejo além do alcance dos olhos.
– Mas, o que está além do alcance dos olhos?
– Um cenário colorido e radiante.
– Descreva para mim. Gostaria de estar vendo também…
– Vejo um grande portal reluzente e atrás dele vejo um belo e exótico jardim. Alguns anjos sorridentes andam de um lado para o outro, em silêncio.
– E o que fazem?
– Estão cuidando das plantas.
– Consegue reconhecer as flores?
O sábio não responde imediatamente. Fica em silêncio com o olhar fixo num determinado cantinho do jardim. E depois responde, seguro:
– Posso vê-las, sim. E vou dizer quais são as mais belas.
– Então diga logo! Estou ansioso…
O mestre sorri para si mesmo e fala:
– Todo o jardim é composto por muitas qualidades de flores comuns e algumas… exóticas. E posso garantir que a mais bela é a iluminada e resplandecente Caridade!
O pequeno discípulo não entende muito bem, mas prefere permanecer atento.
Sereno, o sábio continua:
– Perto do seu canteiro, vejo muitos Amores… Também vejo alvíssimas Esperanças de pétalas vibrantes.
Novo silêncio.
– O que mais pode descrever para mim, já que nada vejo?
– Posso ver com muita clareza a Fé pairando, feito borboleta feliz, sobre o jardim tão colorido e perfumado.
– Pode me explicar por que não fala das flores?
– Mas estou falando de flores, meu pequeno! Não há flores mais belas que essas. Ah, o amor! Tem muitos canteiros desta magnífica flor, em variadas cores. E como cintilam aos meus olhos!…
– Fale-me mais sobre essas flores tão especiais. São mesmo bem exóticas, mestre!
Alguns segundos de silêncio…
– Elas representam virtudes indispensáveis em nossa vida.
– Fantástico, mestre! Nunca vi dessas flores, mas estou conseguindo imaginar. Gostaria muito de poder vê-las, assim como o Senhor.
– Vai vê-las também, meu pequeno. Comece mentalizando um belo jardim. Plante todas as flores que quiser, mas não deixe de plantar também essas flores exóticas. Regue-as com carinho e responsabilidade. Elas vão crescer com os seus cuidados e desabrochar. E, a partir desse momento, você as verá com a clareza e a nitidez que eu as vejo hoje.
– Mestre, meu coração já está transbordando de alegria, pois tenho certeza que um dia eu as verei, como o senhor as vê hoje!
Julieta Bossois